sexta-feira, 23 de maio de 2014

Segundas-feiras


17h30 - Chegada na sede da Pequena Companhia de Teatro. 
  • [Tenho oscilado esse horário. Comumente chego antes para verificar elementos de cena, limpar as cadeiras]


17h45 - Início do alongamento individual e da passada de texto com o Jorge C. 
  • [Ficamos no fundo do cenário, entre a coluna e as pernas. Diferentemente de Pai & Filho, cada um segue um alongamento particular, de acordo com as exigências da personagem e do corpo do ator]


18h - Início do aquecimento, utilizando o Quadro de Antagônicos para tal. A passada de texto continua.
  • [A minha ordem, comumente, é: velocidade/dilatação/retração/agilidade/dureza/máximo/mínimo/gueixa-feminino/samurai-masculino/leveza/peso/tensão/velocidade]


18h15 - Figurino e maquiagem.
  • [Os atores fazem suas próprias caracterizações. Jorge C. me ajuda com a maquiagem das costas e eu o ajudo colocando as asas. Um dia uma delas caiu. eu quis a morte! Percebemos depois que não era minha culpa, minha máxima culpa, mas sim da fita que perdera parte de suas propriedades de aderência]


18h40 - Como uma ou duas maçãs.
  • [Em Pai & Filho comecei a criar o hábito de fazer gargarejo com água morna, vinagre e sal. Um equívoco de minha parte. Sensação de ressecamento das pregas vocais. Depois, mudei para as maçãs. São adstringentes. As massudas não funcionam bem. Mas, quando não tem maçã, o espetáculo acontece assim mesmo. Somos cerimoniosos, mas nem tanto]


18h45 - Origem da personagem.
  • [Há oscilação no horário para a origem. Depende de muitos fatores. Esperamos o contato de Marcelo F. Iniciamos na primeira batida de Molière. Essa origem é para fazer com que o corpo relembre a forma da personagem, a partir dos antagônicos escolhidos por cada um dos atores. Esse procedimento é repetido igualmente antes de cada apresentação. No meu caso: de pé, fecho os olhos, inspiro e expiro 10 vezes, como se meu corpo estivesse buscando um relaxamento proveniente do cansaço exaustivo do corpo. Na última expiração, elevo meus braços acima da cabeça e na última inspiração deixo-as cair em direção ao chão, juntamente com meu tronco. Ainda de olhos fechados, começo a flexionar meu joelhos tentando elevar meu tronco à posição inicial, mas com uma certa dificuldade, proveniente da fraqueza sentida pelo corpo. Com o tronco elevado, já se estabelece um certo equilíbrio precário decorrente da curvatura da coluna, não muito projetada. A cabeça gira 360º para a esquerda e para a direita. A máscara já começa a se consolidar. A coluna um pouco mais curvada. Dou 10 pulos com uma força mínima a ponto de não conseguir retirar ambos os pés do chão. Abro os olhos. Inclino-me para a direita, elevando o pé esquerdo do chão. Uma força mínima e um mínimo de equilíbrio torna essa ação mais efetiva para que o corpo perceba sua fragilidade. Para mim funciona como uma espécie de termômetro. Repito para o outro lado. Pronto, agora posso andar. Ando pelo banheiro compartilhando o espaço com Jorge C. Começo a oralizar parte do texto. Algumas falas se repetem nesse procedimento: "Cobre teu corpo..."; "Meu pai os arrancou..."; "Estou brincando...". Agacho-me de duas a três vezes, repetindo formalizações de cenas do espetáculo. Entre a segunda batida e a terceira, bebo um copo com água previamente deixado sobre a pia. Ressono um pouco mais. Quando ouço a terceira batida, apago as luzes, Jorge C. abre a porta. Saímos e eu a fecho. Ficamos atrás do galinheiro esperando a sonoplastia. Jorge C. vai para a sua marca. Eu continuo, por detrás da coluna, ressonando e andando de um lado para o outro, até o momento de ir à minha marca.


19h - Início do espetáculo.

20h - Término do espetáculo.
  • [Em algum momento volto para casa. Tem noites que feliz, tem noites que triste, tem noite que pensativo. Algumas sensações não são compartilhadas. Há uma necessidade de amadurecimento do sentir, do pensar, a partir da execução a obra. Hoje, as noites de segunda têm estado mais interessantes - como as de quarta-feira. Restam-me alguns dias na semana para eu preenchê-los com arte, com desejo, com ternura]

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