Uma coisa é ser artista, outra coisa é
fazer artistices. Chamo de artistices aquelas ações que tem por objetivo
demostrar uma atividade artística, mas, na verdade, não passam de meras jogadas
de estilo, palavras de efeito, ações para a construção de um mito pessoal, como
se isso fosse possível. São atitudes autopromocionais, estudadas com o mero
propósito de chamar a atenção para o agente artístico, o indivíduo operante, a
persona. Sabemos que persona deriva do latim persõna e que significa a máscara de ator, o papel atribuído a essa
máscara, blábláblá, contudo, em castelhano – possuindo a mesma derivação do
latim –, persona quer dizer pessoa. Simples assim. É o que a contemporaneidade
tenta fazer: tornar a pessoa a própria obra de arte, e, com isso, reduzir o
tema. Imaginem
um cabôco entrando em várias casas de pessoas desconhecidas, sem pedir licença,
sentando-se, tomando café com elas e saindo, sem dizer palavra – a la Teorema, de Pasolini. Seria massa,
não? Não. Seria uma artistice. Pensem no irmão desse cabôco postando um peido e
sendo banido do mundo virtual pelo teor fétido do seu conteúdo. Seria uma
atitude revolucionária, não? Não. Seria artisticie. E o cunhado do cabôco chacoalhado
guizos nos guetos? Artistice. Tem artistice demais circulando por aí. As redes sociais
cumprem uma fundamental função para o amadurecimento social do nosso tempo (?),
contudo, são também uma fábrica incomensurável de artistices. Não falo de alta e
baixa cultura, não falo de produção artística medíocre, não falo do lugar da
arte no mundo atual, falo de artistice. De usar o subterfúgio artístico como
mero pretexto para aparecer. Utilizar o instrumento artístico para ganhar
visibilidade, fama, celebração – mesmo que seja apenas entre os pares de uma
mesma corriola. Escrever um romance, montar um espetáculo, compor uma sinfonia,
fazer um filme, leva tempo, pesquisa, trabalho. Tirar as calças no meio da rua,
não. O mais curioso é que o esvaziamento do discurso contemporâneo apresenta um
sem-fim de seguidores fiéis para cada artistice plantada na contramão da arte.
Blábláblá. Tudo artistice. O pior é que, de vez em quando, eu faço as minha
também. Cada corriola tem as artistices que merece.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Assinar:
Postagens (Atom)