Não sou homem
de listas, pedidos, desejos, promessas. Faço o que está ao meu alcance para que
minha vida seja tão boa quanto o meu esforço para que a vida dos outros seja.
Não consigo imaginar o bem-estar se não for coletivo. Os outros são outros eus,
e meus eus são tão plurais que confundiriam meus pedidos. Uma virada de ano não dá
conta da histórica desigualdade que nos constituiu como sociedade, portanto, em
vez de dar pulinhos sobre as ondas, dou meus pulos para fazer do teatro o
instrumento de transformação que sonhei quando ainda não fazia promessas para
um ano novo – como disse, não sou homem afeito a essas práticas. Principio
insistindo em não abandonar a utopia — um ser humano que acredita no poder de
algo tão inútil como o teatro, ou é um tolo, ou um idealista, que,
contemporaneamente, significam a mesma coisa. Abraçado a essa égide, vou
imaginando um mundo melhor enquanto reparo pequenas fissuras, porque um mundo
se constitui de partes pequenas, e se deixo que a parte que me cabe roa, não
posso exigir o melhor através do reparo dos outros. Entretanto, sabedor de que
tudo é pouco quando os excluídos são tantos, desabito o utópico desejo para
habitar a realidade, e mergulho na análise dos pequenos atos, aqueles que
corrompem, transformam, denigrem, enriquecem, destoem, melhoram. Qual humano me
tocou ser? O foragido? O mesquinho? O mártir? O clandestino? O corrupto? O
exilado? O invejoso? O ser simbólico é a essência do ser real. Qual é o meu
traje? Que papel me fora outorgado pela imagem que criei de mim? É a partir
dessa imagem que se constitui a relação com o entorno, e não se espera
honestidade do corrupto, lealdade do infiel, clausura do mundano. O que o mundo
espera de mim enquanto me pavoneio sobre o quanto eu ajudo a melhorá-lo?
Tocou-me o papel do insignificante, do invisível. É desse lugar que tento mudar
o mundo. É da impotência dessa condição que enfrento todos os moinhos. É desse
abismo que sonho construir um mundo melhor para todos. É dessa miserável
situação que violento a minha vaidade ao prever que o próximo ano será tão
igual quanto todos, se minha inércia não se quebrar em benefício do todo.
domingo, 27 de dezembro de 2015
sábado, 12 de dezembro de 2015
Cansei de ser enganado
Estou cansado
de ver artistas abrindo concessão por tudo: dinheiro, religião, crítica,
opressão. Uso hoje o dinheiro como objeto de provocação. Estou cansado de
assistir a obras que não são o que seriam, porque a redução de custos comprimiu
a arte a ponto de mutilá-la. O cenário não cabe no orçamento? Faço de um
barbante meu castelo. Não dá para pagar a banda inteira? Vou de voz e violão. A
grana não cobre a contratação de luz? Faço da minha incandescência uma soturna
escuridão. Artistas vão de multimídia a monobloco em fração de segundos para
adaptar conceitos, sem se ater aos efeitos, que na maioria das vezes se tornam
defeitos. Estou cansado da argumentação etimológica, com palavras de ordem –
pós, contemporaneidade, processo, efemeridade, flexibilidade –, para camuflar a
óbvia necessidade de faturar. Estou cansado de ouvir a frase “artista tem que
sobreviver” como argumento para estuprar a arte, o pensamento, a paixão, a
víscera, a vocação. Estou cansado de ouvir a explicação do artista me dizendo
como é a apresentação original, o quão genial é a obra pressuposta, enquanto eu
vejo o Frankenstein que ele criou para poder chegar até aqui apertando o
orçamento. Estou cansado de que mintam na minha cara sem pudor, estou cansado
da conivência do espectador, estou cansado da ausência de fervor. Estou cansado
de ficar em casa com medo do que vou encarar no teatro, no museu, na praça. Onde foram parar as deliciosas
frases “botei do meu bolso”, “gastei tudo o que eu tinha”, “tomei prejuízo”,
para explicar a odisseia que foi conseguir trazer essa obra magnífica a um
estado tão periférico como o Maranhão? Estou cansado de boas ideias e péssima
execução. Estou cansado de ser condescendente para não magoar o amigo, de ser
hipócrita para não parecer sempre crítico, de ser taxado por não comungar com a
mediocridade, de ser o excêntrico porque não engulo qualquer coisa. Estou
cansado da ideia de que qualquer coisa é melhor que nada, quando o nada é bem
melhor do que qualquer coisa. Estou cansado de levar gato por lebre, apesar de
preferir gatos. Não aleije sua obra, não flexibilize em demasia, não venda seu
rigor, não comprometa seu dizer, não subestime o espectador. Recentemente vivemos
uma situação similar, onde precisamos ajustar nossa montagem a um projeto de circulação, e o norte do país verá Velhos caem do céu como canivetes sem um
centímetro de prejuízo em relação ao espectador que assiste o espetáculo em nossa
sede; não fosse assim, não veria. Portanto, não me venham com arengas.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
sábado, 5 de dezembro de 2015
A Pequena na Amazônia Legal
A última apresentação do ano de Velhos caem do céu como canivetes, a quadragésima, encerrando a programação de artes
cênicas da 10ª Aldeia SESC Guajajara de Artes, culminou com o anúncio da
seleção do espetáculo para participar do projeto SESC Amazônia da Artes, em
2016, anúncio feito pela querida Isoneth Almeida antes do início do espetáculo.
Serão dez apresentações por todos os estados da região Norte, além de Mato
Grosso, Piauí e Maranhão.
Com o anúncio, no ano em que a Pequena
Companhia de Teatro completa dez anos, teremos nosso repertório circulando por
duas regiões completas do nosso país – Pai & Filho circulará pela região
Centro-Oeste, pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura. Nossa luta será
para estender a comemoração para todas as regiões, e ainda dependemos de
algumas respostas, sortes, confirmações, mandingas, resultados e cruzamento de
dedos.
Os dois projetos vão nos proporcionar a
possibilidade de atingirmos alguns dos poucos estados que faltam para a
Pequena Companhia de Teatro ter circulado por todos os estados brasileiros com
seus espetáculos, façanha que para uma companhia de teatro de pesquisa
maranhense é quase uma odisseia.
Como os estados do Amazonas, Roraima e
Acre, estão incluídos na nossa circulação pelo Amazônia da Artes, e Mato Grosso
do Sul e Goiás estão incluídos na circulação pelo programa da BR Distribuidora,
apenas o estado de Sergipe e o Distrito Federal não terão recebido espetáculos
da Pequena, pelo menos até o fim desta postagem. Não sei o que isso quer dizer,
mas sei dizer que isso não é pouco.
Contudo, o que diferencia o projeto
Amazônia das Artes, é a possibilidade de diálogo com uma região que, apesar de ser
tão próxima do Maranhão, não se apresenta elucidada por nós como deveria. A
potência criativa que emana do discernimento das diversas realidades da região,
suas delícias e agruras – como nossa querida leitora Maria Rita, do Amazonas,
destacou ao comentar aqui – alargará o nosso entendimento sobre um fazer
teatral nacional, como outrora comentei na postagem Teatro brasileiro.
O ano do aniversário ainda nem começou e
já temos motivos de sobra para comemorar, e celebrar fazendo teatro é a nossa
prioridade: juntem-se a nós, Sergipe e Brasília!
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Assinar:
Postagens (Atom)